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sábado, 21 de fevereiro 2009

David Norman Court

Hoje, 21 de fevereiro, é o aniversário de 25 anos da morte do meu pai.

Ele faleceu, subitamente, enquanto eu estava em turnê no Uruguai em 1984. Na época, não existia DDI naquele país. Nem existia celular. Para fazer e receber ligações telefônicas internacionais, era preciso alugar uma linha e esperar por duas ou três horas para poder fazer a conexão. Devido à minha agenda movimentada, minha mulher, que havia ficado no Brasil, não conseguiu me avisar da triste notícia. Quando eu voltei ao Rio, após uma semana, o seu enterro já havia sido realizado na Escócia.

Meu pai era um homem austero, militar e passava longos periodos da minha infância viajando a serviço da Sua Majestade, (ele era coronel do regimento de infantaria, The Queen's Own Buffs). Enquanto menino, eu sentia muito a falta da presença dele em casa e quando, aos sete anos, fui despachado para um colégio interno na Inglaterra, a distância me parecia ainda maior entre nós.

Eu só via minha família durante as breves férias de Natal e nos dois mêses de férias de verão, em julho e agosto. Isto continuou até os meus 18 anos, em 1970. Quando saí do colégio e fui estudar literatura em Oxford University, eu era um adolescente rebelde, totalmente apaixonado pela cultura pop/rock que tomava conta do mundo.

Meu sonho maior era me tornar um músico famoso, como meus heróis roqueiros, Jimi Hendrix e os Beatles. Meu pai nunca entendeu a minha vocação. Ele não aceitava que um filho dele pudesse jogar para o ar toda aquela educação privilegiada que ele havia me providenciado, com muito sacrifício financeiro etc., para que eu me tornasse um "simples músico".

o que ele não entendia, na verdade, era que aquela educação privilegiada me ensinou justamente a pensar por mim mesmo, a fazer as minhas próprias escolhas de vida. Tivemos muitos desentendimentos e, um belo dia, anunciei que havia recebido um convite para tocar numa banda de Rock no Brasil, (Os Mutantes), e que iria trancar a minha matricula na faculdade. Para ele, foi a gota d'água. Embarquei para o Brasil e passamos muitos anos sem nos falar.

Em 1980, minha mãe morreu e a minha filha, Mary, nasceu. Em 1983, meu pai soube do meu sucesso como cantor e veio ao Brasil para conhecer a netinha. Ele não quis ficar na nossa casa, preferindo se hospedar no Hotel Sheraton. Embora ele já estivesse bem doente, ele não dava o braço a torcer. No primeiro dia de sua estadia, um sábado, ele veio nos visitar em casa. Nessas alturas, eu estava estourando com a música "Menina Veneno" e precisei sair de casa para gravar o programa Cassino do Chacrinha. Meu pai ficou lá em casa, sentado no sofá, com a Mary no colo, e deixei a TV ligada na Globo para que eles pudessem assistir ao programa, que passava ao vivo no canal. Mal sabia eu que naquele dia eu receberia das mãos do Velho Guerreiro o meu primeiro disco de ouro pela venda de mais de 100,000 cópias da canção.

Quando eu voltei para casa, algo havia mudado. Meu pai sorria de orelha à orelha e falou que se orgulhava muito de mim e das minhas duras conquistas musicais. Foi nesse momento que fizemos as pazes. Ele voltou à Inglaterra e, segundo a minha irmã, jamais perdia a oportunidade de mostrar, orgulhosamente, meu disco para os amigos e familiares.

No dia exato em que ele faleceu, (e sem que eu soubesse do fato), tive um show agendado em Montevideu, Uruguai. A casa estava lotadíssima. Mas o sistema de som da casa emitia um ruido muito estranho, alto e contínuo, antes da apresentação. Ninguém da equipe de som da casa soube tirar o ruído, não havia explicação técnica para aquilo. Tentaram de tudo. Foi tão grave o problema que, em determinada hora, precisei anunciar para a platéia atônita que o show seria prorrogado para o dia seguinte. Quando voltamos ao teatro no dia seguinte, o som havia sumido, da mesma maneira misteriosa que apareceu.

Jamais descobrimos o que causou a interferência estranha mas nada nesse mundo me convence de outra coisa senão que era o meu pai tentando se comunicar, de uma vez por todas, com o filho dele.

irradiado por Ritchie [21 de fev 2009, às 12:36]

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12 SINAIS NO RADAR

Que historia ,,,,Ritchie,as vezes temos que passar por isso para ver se estamos no caminho certo,,
Seu pai que foi contra sua vontade de seguir sua carreira,,,Deus tocou no coração dele,pra que a ultima vez ele se encontrasse com vc e ficasse feliz com tudo na sua vida e se despediu,,
Ainda bem que não teve remorço ..o resultado de tudo isso è vc e grande exemplo de familia que vc tem,,,,
QUE DEUS ABÊNÇOE VC TODA SUA FAMILIA,,,,

irradiado por: Juliano de Oliveira em fevereiro 21, 2009 6:58 PM

Ritchie,,desculpe,,porque eu na hora de escrever no seu bloig,,,,embolei muio as palavras,,,mas acho que importa è a consideraçao e grande amizade,,,,eu mim considero seu amigo de verdade ,,pode contar,,mesmo que vc não mim conheça,,,apesar de eu ser como vc,,,,tenho uma familia maravilhosa,,tenho uma filha de 5 anos,,,e espero conseguir o mesmo exemplo de familia ,,,,como a sua,,,

irradiado por: Juliano de Oliveira em fevereiro 21, 2009 7:04 PM

Ritchie,,,,por incrivel que pareça,eu coloquei o cd 25 anos do vôo de coração pra tocar e escolhi a musica ( casanova ) essa musica è tâo perfeita,,os detalhes da bateria eletrônica ,,porque vc não canta essa musica em seus shows em bateria eletrônica,,è linda

irradiado por: Juliano de Oliveira em fevereiro 21, 2009 10:46 PM

Ritchie ,,,,o dvd vai sair quando pra lojas,,ou vendas pelo site ?

irradiado por: Juliano de Oliveira em fevereiro 21, 2009 11:54 PM

Meu Deus...me lembro vagamente, muito vagamente, de uma participação sua naquele "Viva a Noite", de Gugu Liberato, em 1983. Vc cantou e foi entrevistado por ele, quando te reservou uma surpresa...será que não estou falando bobagem, se disser q era exatamente uma chamada para falar com seu pai? E imaginar que ao longo de 1984 me lembro de suas músicas ainda bombavam e de suas participações na tv..."e a vida continua"...

irradiado por: Anny em fevereiro 22, 2009 1:04 AM

Juliano,

O DVD está previsto para sair nas primeiras semanas de maio através do meu selo, PopSongs, com destribuição pela MicroService. Será lançado em formato de CD também. Ambos estarão à venda nas lojas, no meu site e nas bancas de jornal de todo o país.

Antes disso, porém, ele será transmitido em primeira mão pelo Canal Brasil. Talvez ainda em abril.

irradiado por: Ritchie em fevereiro 22, 2009 8:47 AM

Anny,

Foi isso mesmo. O pessoal da CBS e da produção do Gugu aprontaram essa surpresa pra mim - e para meu pai, que mal conseguiu falar de tanta emoção. Ele passou logo o telephone para minha irmã, Gillian.

O mais bizarro foi a reação da platéia, desacostumada a me ver falando em minha língua nativa. Imagine a cena: de um lado, eu e a minha família na Inglaterra, emocionadíssimos e, do outro lado, a platéia do Gugu, às gargalhadas com as minhas falas, sem direito à tradução simultânea!

irradiado por: Ritchie em fevereiro 22, 2009 9:24 AM

Muiiiiiiito bom por um lado, que você mostrou pra ele que seu sonho foi tornado realidade..(e como né?!)...

Ele foi, mas certamente com muiito orgulho! Porque deixou um filho maravilhoso, e que definitivamente nasceu pra música!

Que venham shows shows e shows...
lov u dad

irradiado por: Lynn em fevereiro 22, 2009 12:56 PM

Vida louca vida
Vida IMENSA

irradiado por: Lulissima em fevereiro 22, 2009 1:02 PM

Nossa Ritchie, quantas coisas aconteceram não? Acho incrível como voce abre seu coração com seus fãs, contando particularidades da sua vida, o que faz com que estejamos cada vez mais próximos.
Voce realmente é um ser humano muito especial.
Com certeza seu pai sempre sentiu muito orgulho de vc!

bjs
Regina

irradiado por: Regina Campelo em fevereiro 26, 2009 1:47 PM

Ritvhie, realmente poderia ser alguma "interferência" do seu pai, não sei... Mas sei que ele , de onde está, pode lhe acompanhar e, quem sabe?, até lhe ajudar em alguma coisa, aqui ou ali... Ele está mais vivo do que nunca! :) Ah, e seu cão, o Elvis, também, pode ter certeza. Aliás, pode até estar sob os cuidados de seu pai... Um abraço!

irradiado por: Flavio em fevereiro 26, 2009 4:18 PM

Depois de vários dias com problemas com a droga do pc (Rwindows Vista), somente agora pude acessar o site novamente e ler sobre a lembrança do "Viva a Noite" e as emoções vividas em pleno palco...sem mais comentários. Insisto q "a vida continua...".

irradiado por: Anny em fevereiro 27, 2009 6:55 PM
Ritchie

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